quarta-feira, 13 de abril de 2011

Crônicas de dona Regina

Era abril e fazia sol lá fora
por Regina Padilha

Desculpem-me, mas hoje a data é especial e como parte da catarse para manter-me equilibrada   e  serena, preciso falar...
 
Era 16 de abril de 1997. Fazia sol lá fora.
Mais um dia começava igual a tantos outros. Café da manhã apressado. Cada um seguindo rumo às suas atividades.
 
Pouco depois das dez horas da manhã, um telefonema mudou o rumo do meu dia, muito mais que isso, mudou o rumo da minha vida, fez ruir meus sonhos, meus planos, colocou-me do avesso. Nenhum aviso, nenhum sinal., sequer uma despedida.
 
Abruptamente minha primeira filha, Luciana, a doce Lu, aos vinte e três anos, simplesmente foi embora, partiu para uma longa viagem, para descobrir, imagino eu, novos mundos, novas percepções, outras dimensões. Fiquei desnorteada, atônita, em choque, coração partido e uma dor que não conheço mais doída, com a nítida sensação de que não conseguiria continuar.
 
No dia seguinte a esta partida, outra vez lá fora, fazia sol, na rua o vaivém do cotidiano acontecendo e para mim, o espanto em tentar compreender como era possível, que enquanto eu não sabia como viver sem ela, como enfrentar aquele quarto vazio, a vida inalterável, seguisse seu curso.
 
Mas dia após dia, um passinho de cada vez, apoiada no carinho da família, dos amigos, dos alunos e em Deus, fui compreendendo e aceitando que tudo faz parte de um plano que o Pai tem para cada um de nós e fui juntando os pedacinhos.
 
Neste processo de reconstrução, um episódio teve peso significativo, foi quando um dia, a Ju, com os olhos nadando em lágrimas, veio bem pertinho de mim, enlaçou-me e disse-me - “Mã eu estou aqui, dá um sorrisinho prá   mim...-” Palavras abençoadas, acordaram-me para a realidade. Eu tinha alguém, muito amado, precisando de mim. Trocamos num abraço estreito, dolorido, longo, acompanhado dos soluços libertadores que até então escondíamos uma da outra, toda a dor que ambas sentíamos, por uma energia de renovação, de superação, de afeto solidário.
 
Segui. Entendi que uma pessoa tão querida, vai embora, mas não desaparece, ela fica no coração daqueles a quem amou e que a amaram, no amor que deu e recebeu.
 
Hoje a dor é diferente, é doce saudade, sustentada pelas lembranças dos momentos mais bonitos e agarro-me ao sonho-esperança, de que um dia nos reencontraremos e então, todo este amor, estas lágrimas e saudades represados, vão extravasar num abraço que não há mais de ter fim.

15 comentários:

Dan disse...

imagino como é dificil pra vcs. Aliás, faz tempo que te conheço Ju e nunca falamos sobre isso!
A dor nunca deve passar, mas as palavras de sua mãe exemplificam como devemos agir em situações como essas.
Que bom ver vcs fortes e felizes depois desse tempo todo!
O vazio fica, mas a vida também continua!
Orgulho de vcs!

grande beijo
Dan

Caixinha de Surpresa disse...

Vale chorar muito? Nossa...nó na garganta e lagrimas correndo com todo disfarce. Lindo seu jeito de olhar a vida.

Pedro Almeida disse...

D. Regina,

Não consegui conter minhas lágrimas. Admiro tanto vocês todos pela maneira como compreendem a vida, mesmo após tão grande perda. A alegria, a gratidão, o amor arroxado que compartilham.

Ser familia com vocês, é ter diariamente motivos de orgulho, admiração e gratidão. Não poderei jamais compreender o que passou, mas percebo em todos vocês a beleza de um coração grato e o quão isso faz bem.

Uma lindíssima família da qual tenho imensa alegria de fazer parte.

Bjos D.Regina, do genro que te admira profundamente.

Glau disse...

Regina, eu não te conheço pessoalmente, mas peço licença pra te dar um abraço bem apertado, cheio de afeto e carinho. Gosto de abraçar pq ficamos com um coração perto do outro.

Seu texto me emocionou mto.
Um grande beijo, Glau

Toda Bossa é Prosa disse...

Estou chorando aqui e muito. Foi a Crônica mais linda e sem dúvida a mais emocionante. O modo como vivenciaram isso tudo e a forma como a Jú sintetizou tudo em palavras, muito lindo. Que grande perda, mas que superação cheia de amor e afeto.Tem um techo de um verso sobre a morte que diz que: "É a Saudade que torna encantada as pessoas" Um bjuxgdeeeee na bochecha das 2 bem apertado e cheio de carinho e admiração! Tati

Milena disse...

Não tem o que falar... simplesmente LINDO....

Ju Beltramini disse...

É bem assim; as pessoas que amamos simplesmente vão embora, partem para a longa viagem e não nos dizem adeus... Agora sou mãe e li esse texto com novos olhos!

Peço permissão para também me confortar com as lindas palavras da Dona Regina e pra agradecer a prazerosa - e emocionante - leitura!

BJu pra família toda!

Jacqueline disse...

Regina...
Dividir essa emocão com vc foi me sentir mais perto ainda.
Nem posso imaginar o tamanho da sua dor, hoje transformada nessa linda licão de superacão....
bjss

Anônimo disse...

A primeira neta de quatro que vieram para iluminar nossas casas..
Carinhosamente chamada de nossa Princesa...
Ô saudade diária...
Tia Ana

Anônimo disse...

A todos que por aqui passaram e me deram um colinho, obrigada, são pessoas assim, feito vocês, solidárias, delicadas, que fizeram com que eu seguisse vida afora.
Beijo grande.
Regina.

Camila Coimbra disse...

Grande texto.

E estou aqui perplexa por um outro fator tb.
Sua mãe trabalhava numa escola anos atrás Ju?

Se sim, é ela mesma. Sua mãe era a pessoa que mais me dava atencao quando eu era pequena, e era de uma tranquilidade e carinho sem fim, tenho essa lembranca dela, da minha infancia, tenho fotos com sua mãe.. gente, que mundo pequeno.


sua mãe é muito especial, e eu, apenas uma pequena que sempre era acolhida com carinho.
é realmente surpreendente essa vida.
Depois vou escanear as fotos q eu tiver.

mande um beijo bem grande?
pra vcs duas,

Camila.

Marina Righetti disse...

Ai Dona Regina, nao faz isso com a gente, assim nao vale...
beijos carinhosos para as duas.

Marina Righetti disse...

Ai Dona Regina, nao faz isso com a gente, assim nao vale...
beijos carinhosos para as duas.

Mi Vargas disse...

E o tanto que eu chorei agora? Quem vê seu sorriso largo, se inspira e recebe suas palvaras doces e se encontra em uma braço apertado como o que eu recebi, não imagina essa dor!
Tão bom, diria Guimarães Rosa, morrer de amor e continuar vivendo...
parabéns pela força e pela alegria do continuar em frente Tia!

Ps: LINDA foto!

Fernando Signorelli disse...

Celinha, minha querida prima:
Há muito tempo ouvi essa frase, sem que, confesso, a tivesse entendido em sua profundidade. Mas senti ser muito verdadeira:
"Nunca estarão longe aqueles que amam as mesmas coisas".
É com essa hoje certeza que posso te afirmar - a Lú sempre foi, é e será muito presente em nossas vidas.
Paz no seu coração.

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