sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Crônicas de Dona Regina

esta semana começou com a cena triste do ipê ao chão... em junho eu o havia fotografado em seu esplendor, aqui... dona Regina que passava pelo ateliê, no dia,  também viu a cena... é enorme a falta que ele está fazendo...

"O Ipê Rosa, Rosinha"
por Regina Padilha




"O que é bonito enche os olhos de lágrimas."
                                                                Adélia Prado

Em plena primavera ele se foi.

O ipê rosinha defronte à casa azul, feito soldado que tomba no front, tombou diante da inclemência do vento feroz que soprou sobre Ribeirão Preto, no sábado, 29 de outubro.

Ver suas raízes expostas na calçada, seu tronco, trincado de morte, suas folhas, espalhadas, ele tão nobre e altivo, foi de cortar o coração e dar travo na garganta,s endo que ainda há pouco tempo,f loresceu majestosamente, com centenas de flores rosa bem clarinho, tão leves, etéreas, verdadeiros flocos de nuvens, produzindo intenso espetáculo, desses que só a natureza é capaz.

E que beleza a sua copa florida contra o céu azul! De encher os olhos de lágrimas!

Pois foi assim mesmo, quando o ví florido, aproveitei ao máximo aquela verdadeira epifania de explosão de vida, tentando capturar em minhas retinas, toda aquela beleza, pois o "show"f oi breve, efêmero, de um dia para outro, da mesma forma que floresceu, vigoroso, as flores caíram, espalharam-se pelo chão feito passadeira de rainha, comprovando o quanto é certo que a vida é feita de fugazes momentos....

Agora só restou um requiem em sua homenagem e se eu soubesse fazer, ele bem que merecia um haicai inspirado, mas só consegui chorar uma lágrima fujona e escolher, do chão, a folha mais bonita e trazer para casa, com o maior cuidado, para colocá-la dentro de um livro querido, numa tentativa, quem sabe, de eternizar o ipê rosinha.

Sei que vai incomodar e muito o vazio por ele deixado naquela calçada e com ele, se vai também, um pouco do charme que sua presença elegante conferia ao lugar , vai daí que sugiro à turminha da casa azul, plantar ali, outra árvore, quem sabe uma pitangueira, de pequeno porte, graciosa e que de quebra, produz frutos.

Presa ainda às palavras de Adélia, elas me fazem transcender que se a beleza enche-nos os olhos de lágrimas, as ausências, mais ainda, seja lá de uma pessoa, de um bichinho, de uma árvore e de tudo mais que desperta em nós, emoções, sentimentos. Como é doída uma partida...

E o mais incrível, conto agora. Toda a delicadeza e bravura da essência de nosso ipê, foi demonstrada, pois enquanto ele poderia ter caído sobre a casa, não o fêz, lutou  bravamente contra a natureza ressentida, sabe-se lá de quantas provocaçôes e quedou-se estendido ao longo da calçada, não sem antes suportar até o limite máximo de suas fôrças, que o carro estacionado sob sua sombra, dali saísse, levando sã e salva, a moça que também trabalha na casa azul! Que história!

Vou procurar por ipês clarinhos, nas futuras floradas que por ora demoram,  para lembrar a árvore que encantou a mim e mais um punhado de gente.
E a primavera segue sem ele. o ipê rosa, rosinha..

4 comentários:

Marta Jacintho disse...

Quanta poesia, Dona Regina!Parabéns pela crônica belíssima. bjim

Jacqueline disse...

O que é bonito enche mesmo os olhos de lágrimas... os meus estão marejados com as palavras encantadoras da Regina... me senti lá, presente, sentindo a dor o ipê.
bjs

Anônimo disse...

Marta e Jackie, minhas flores, obrigada pelo carinho. Beijo grande.
Regina.

Keilla Colombo disse...

Que dó, só de ler o que vc escreveu já fiquei triste, pois uma arvore também tem vida e um ipê tão lindo desses não merecia o que lhe aconteceu....Por que você não planta outro no mesmo lugar?

Estou participando da promoção para escolher o nome da sua nova menina, espero que goste da minha sugestão...

Bjosss

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