Cafézinho, pão de queijo e um dedinho de prosa...
Por Regina Padilha
Adoro as Gerais.
Paixão não de superfície, mas de profundidade, coisa antiga que começou nos tempos da faculdade de história e foi intensificando-se à medida em que eu compreendia e ensinava a influência de Minas Gerais no desdobramento da História do Brasil. Até a bandeira do estado é especial, estéticamente linda, fundo branco, triângulo vermelho e o dístico "Libertas quae sera tamen”- Liberdade ainda que tardia-, tudo denso de significado, mas isto é assunto para outro dia; hoje de Minas, quero falar das amenidades, belezas e delícias.
A paisagem exuberante, as serras, o inverno rigoroso, a neblina, a comida feita em panela de ferro e tacho de cobre, o maior acervo de arte barroca do Brasil, a arte sofisticada em estanho, pedras preciosas e mais rústica, em pedra sabão, o artesanato intuitivo riquíssimo, o mineiro, a mineirice.
Perdi as contas das idas às cidades mineiras e no entanto, a cada vez é como se fosse a primeira e a cada vez, sei que preciso voltar, descobrir, desvendar mais...
Belo Horizonte, entre cosmopolita e barroca, emoldurada pelas serras do Curral del Rei, por onde passaram tantos personagens com as mulas carregadas de riquezas que nos foram espoliadas, tanta história.
Tiradentes, o céu mais azul que conheço, o casario, os museus, as casa de telhados sem eira nem beira, as ruas de calçamento em pedra amendoim..
Mariana, as igrejas com fachadas, altar e esculturas em barroco português, as minas de ouro já improdutivas e algumas poucas com minguada produção, exauridas por séculos de ambição incontrolável.
São João del Rei, a terra de Tancredo Neves, a Matriz de Nossa Senhora do Pilar, com seu órgão secular e que ainda hoje, produz um som dos anjos.
Ouro Preto, a adorável Vila Rica, encantada, as íngremes ladeiras, as fazendas e senzalas onde com um pouco de imaginação, podemos adivinhar a lamúria dos escravos, vítimas de banzo,que ao perderem a liberdade, perderam o seu bem mais precioso, as pousadas aconchegantes, os restaurantes com fogão à lenha no meio do salão, a praça imponente do Museu da Inconfidência, onde eu, particularmente, mal respiro de tão emocionada, diante de tanto legado histórico.
Barbacena, onde num mês de julho, passei o maior frio da minha vida, compensado e bota compensação nisto, por um jantar à beira do fogão à lenha, com frango com quiabo, lombo com torresmo e covardia, doce de leite, de colher, claro, brincadeira que rendeu dois quilos que tive que acrescentar à bagagem...
Congonhas do Campo, Aleijadinho, a Igreja de São Francisco, Os Doze Profetas, esculturas que nem mesmo a má preservação, conseguiu ofuscar o valor artístico.
Diamantina,”como pode o peixe vivo viver fora d’água fria...”, as serestas pelas noites estreladas, a arena com as mais variadas manifestações artísticas, os conventos com seus claustros enigmáticos.
Ai de mim, que dói-me o peito de saudades de todos e de cada um destes lugares e que perdida em lembranças, sou capaz de sentir o sabor-prazer de um cafezinho-pão de queijo e os muitos dedinhos de prosa com esta gente tão maravilhosa. Vou voltar, certeza, porque sei que lá, minh’alma viageira reconhece cada esquina e meu coração , bate num tum-tum, sossegadinho, feito o mais autêntico coração mineirinho, sô...