quarta-feira, 25 de maio de 2011

Crônicas de dona Regina

e porque hoje é quarta e ela, nossa querida dona Regina, parece ter tomado gosto pelas crôniquinhas... elas chegam cada vez mais adiantadas em meu email...
que curtição!

A beleza de ser simples
por  Regina Padilha

“Pra gente aqui ser poeta,
Não precisa professor.
Basta vê no mês de maio,
Um poema em cada gaio,
Um verso em cada flô.”
                              Patativa do Assaré

Talvez porque o sol de maio se aproxima do poente, lembrei demais deste verso acima, estou com ele na memória e deu vontade de reler o poeta cearense de Assaré, sul do Ceará, que viveu como agricultor no Cariri, mãos calejadas, face crestada de sol, mas de coração passarinheiro, que fez do caboclo roceiro, o foco da sua poesia matuta, atestando que poesia não se aprende na academia, mas no jeito de olhar, sentir e compreender a vida.
O poeta, dos muitos títulos e honrarias recebidos, sempre disse que o que mais lhe deu alegria, foi ser chamado Patativa, a ave de canto suave, mas de natureza resistente, que tão bem
fez jus, a quem fez poesia como que fez oração.
Em tempos em que se multiplicam nas mesas dos points da moda , os pseudos-cults, que falam , falam ou escrevem e escrevem, mas passam ao largo dos nossos corações e portanto, nada acrescentam, a poesia espontânea de Patativa, é água fresca e cristalina que nos mata a sede, e o que ele escreveu, está muito acima dos compromissos gramaticais, porque desperta emoção , é carinho que nos é oferecido.
Toda a beleza desta obra literária, está na simplicidade, na autenticidade, na contextualização, não ferindo pois, o idioma, já que Patativa não soaria verdadeiro, se engessado em regras do correto falar.
Se Patativa foi um simples nas coisas da terra, foi grandioso nas coisas da alma, sendo merecidamente chamado o poeta da justiça social, porque, com sua poesia, panfletou contra os desmandos vividos pela gente mais sofrida, sendo por isso perseguido e até mesmo preso, o que não o calou, ao contrário, só o fortaleceu a continuar sendo a voz dos emudecidos por tanta injustiça, como é o caso dos tantos sertanejos perdidos nos cafundós do Brasil.
Com Cora Coralina, somos incentivados a recomeçar, enquanto o chamamento de Patativa do Assaré é mais contundente, ele apregoa a luta , o enfrentamento a tudo aquilo que nos faz mal, de alguma maneira, sugerindo que sem cansar , sem esmorecer, mantendo o coração sereno e o encantamento a cada novo dia ,nós é que temos que vencer a vida e na vida, nem que for só de teimosia!
Se você por acaso não conhece este brasileiro-passarinho, vá buscá-lo, vá mergulhar em suas palavras que arrebatam, instigam e enternecem, é garantia de, no mínimo uma lágrima fortuita escorrendo pela face, de pura emoção, como se nele reencontrássemos um pouco da força e do olhar que queremos ter e é certo que, quem o encontrar, vai sair procurando “no mês de maio, um poema em cada gaio, um verso em cada flô...”

4 comentários:

Caixinha de Surpresa disse...

Lindo demais. Eu A-M-O Patativa. Seeeempre o admirei e estudei um pouco dos seus poemas. Na faculdade de jornalismo, marcamos até uma viagem para conhecê-lo, mas ele veio a falecer um pouco antes. Ele é sensacionalissimo...morei no Cariri e sei a representatividade dele pra aquele povo, sendo ele, uma das maiores riquezas de lá. Cinco vezes Doutor Honoris Causa, com destaque até no exterior, por tudo que a Regina falou...acho que vale muito a pena conhecer um pouco desse passarinho.

Jacqueline disse...

Pura poesia também é o jeitinho lindo de escrever que D. Regina tem...
Adorei a leitura!
Bjs

marina guimarães disse...

gostei muitíssimo no novo layout.

;)
nina

Anônimo disse...

Queridas da "República do Ceará", obrigada por me prestigiarem.
Beijo. Regina.

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