esta semana está sendo surpreendente... encontros, relatos e várias carinhas novas por aqui...
e para deixar estes novos visitantes à vontade vou explicar...
Dona Regina é minha mãe, que sempre escreveu coisas lindas, mas só os fundos das gavetas é que liam...
agora ela tem um dia da semana para dividir seus escritos com quem os quiser ler, aqui no bloguinho...
O quintal de minha maturidade
por Regina Padilha
Um dia uma pessoa querida, referindo-se à Praça Sete de Setembro, disse que ali havia sido o quintal da sua infância, linda licença poética, e hoje, num contraponto, percebo a mesma praça, como o quintal da minha maturidade e como acredito, que todos precisam de”um quintal” para conectarem-se com as suas eternas crianças, proseio um pouquinhode tudo que ali distrai meu coração.
Começo meus dias com minha companheirinha Nina, caminhando pela praça e neste exercício, com meu olhar aprendiz, tenho descoberto árvores majestosas e centenárias, tão senhoras do lugar que dão a impressão de que desde sempre ali estiveram. São seringueiras, figueiras imensas, pau brasil, jambeiro, amoreira, pé de jatobá, sibipirunas, anjicos, faveiros, umbuzeiros, numa profusão de todas as matizes do verde e como se não bastasse esta fartura vegetal, lá estão as jibóias forrageiras que serpenteiam sobre a terra e mais parecem tapete fofo e aveludado, tudo tão harmônico e bonito , que adivinhamos a assinatura do Arquiteto renomado.
Tem também muitos passarinhos, bem-te-vi, sabiá, beija-flor, andorinha e muitos encrenqueiros pardais em revoada, além dos sagüis, tão pequenos quanto graciosos. Embora os quatro lados da praça sejam ocupados por ruas movimentadas, ali dentro, como num santuário, há uma espécie de vida própria que a isola do entorno. Mas além do verde, dos bichos, do frescor delicioso, a maior riqueza está nas pessoas, tão diferentes umas das outras, mas que têm em comum a frequência do lugar.
De acordo com meu estado de espírito, há dias em que caminho rezando, outros observando, meditando e sempre, uma palavrinha aqui, um bom dia acolá e muitos sorrisos aqui e acolá. Há freqüentadores pontuais e os habituais.
Babás com crianças que brincam divertidas, jogam bola, pulam corda, pique-esconde e riem, riem muito. A algazarra alegre me faz lembrar Adélia Prado – “Ah, meu Deus, me dá cinco anos, me cura de ser grande, seria tão bom, como já foi...”- e acho uma delícia , se por acaso a bola chega até mim e tenho a oportunidade de devolver para a meninada, quando por um breve instante, seduzida pela brincadeira, sou menina outra vez, despreocupada , sem medo de nada.
Há os solitários ensimesmados, perdidos sabe-se lá em que pensamentos, deprimidos talvez e que busquem ali, ordenar as idéias ou que simplesmente, divagam embriagados de natureza. Tem jovens mamães empurrando carrinhos com seus bebês gorduchos. Há senhoras na faixa dos setenta que trocam receitas de comidas e claro, de remédios.
Há muita gente na minha faixa etária, nem cinqüenta, nem setenta e os senhores, em número inferior ao das
senhoras, cujo assunto é o politiquês, falar mal dos políticos e apresentar soluções perfeitas para um Brasil decente. Como todos falam alto, certamente não porque a audição já não seja das melhores e sim pela conversa animada, acabo ouvindo fragmentos e percebo entre os homens, que todos estão muito bem impressionados com o” estilão gerentona-eu trabalho da Dilma” e que entre as senhorinhas, a berinjela continua imbatível contra os males do colesterol e hipertensão.
Assim, tão simples, tão cotidiano, tão bom, que volto para casa renovada e pronta para um novo dia e com ele uma nova caminhada com Deus.
Em tempo, a praça da minha prosa, existe no período da manhã, porque junto com a canícula do meio dia, da temperatura, aos freqüentadores, é como se uma bruxa malvada, num feitiço perverso, surrupiasse dali, a maior parte do encanto. Vai saber...